Nesta segunda parceria entre o diretor Andrew Dominik e o ator Brad Pitt (a primeira foi em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, de 2007) há um tênue linha de humor que perpassa quase todo o filme. Em se tratando do submundo do crime, com bandidos rastaqueras e despreparados, o humor das situações remete ao cinema de Guy Ritchie, de Snatch – Porcos e Diamantes (2000).
Talvez este roteiro, nas mãos de Ritchie, que não costuma
fazer filme pretensioso, funcionaria melhor. Porque é justamente a pretensão o
que mais enfraquece o filme de Dominik, ainda que no geral este não seja um
filme ruim.
Mate-os suavemente seria também título melhor, literal, em
relação ao original em inglês, do que O
Homem da Máfia. Matar suavemente é o que faz o assassino de aluguel Jackie,
interpretado por Brad Pitt. Ele é chamado a New Orleans para descobrir e
executar quem teve a audácia de assaltar uma casa de jogo clandestino cheia de
mafiosos.
Na tarefa, diálogos cínicos a respeito da nação
norte-americana e uma boa dose de violência estilizada, com direito a trilha
sonora descolada e alguma câmera lenta.
Como se verá no diálogo final, O Homem da Máfia é um filme sobre economia, sociedade, nação e mercado. Daí a pretensão, a
de fazer de um filme de gangsteres uma intenção de crítica mordaz contra o
cinismo do governo e mesmo do povo norte-americano. Fizesse apenas um filme de
gangster, estaria de bom tamanho.
Esta pompa de crítica afiada se vê (e não demora a se desmanchar
no superficial) logo nas primeiras cenas, quando a todo momento ouve-se o áudio
de discursos do presidente Bush e do então candidato à presidência Barack Obama.
Sem grandes sutilezas, o filme cria um paralelo entre os
assuntos do submundo, como o trabalho de Jackie, a postura corporativa da máfia
e a questão do dinheiro, com as questões nacionais em debate no cenário político,
como o pacote de cortes de gastos da economia e o risco de falência do sistema
financeiro do país.
A intenção é boa, mas o resultado é falho, apesar de o ponto
alto do filme, o diálogo final de Jackie sobre o que pensa dos EUA como
justificativa para cobrar seu pagamento, ter um bom impacto.
O que atrapalha o filme não é apenas obviedade e a pretensão
crítica, mas o desperdício de uma boa situação para se fazer um filme com
estilo, extraindo da violência a mensagem que quer extrair dos diálogos. Toda a
falação do filme, a despeito das boas atuações de James Gandolfini e Brad Pitt
soa artificial demais.
Mesmo tropeçando na própria intenção, O Homem da Máfia é um filme que vale a ida ao cinema. Tem uma ótima
trilha sonora, ótimas atuações e uma situação de comédia de erros, mas sem
tanta comédia. Na verdade, seu tom de humor funciona bem. Dosado com critério
para não atrapalhar a atmosfera da fita, este humor imprime aos personagens um
tom real, absurdo como a realidade.
Com menos discurso e mais ação poderia ser um filme mais
inteligente e muito mais divertido.
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Killing Them Softly
Andrew Dominik
EUA, 2012
97 min.
Trailer
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