Uma família que vive de bicos e da venda de produtos
falsificados vindos do Paraguai perde toda mercadoria em ações da polícia. Para
pagar a dívida com o agiota do bairro, decidem tentar aplicar o golpe da
barriga em um cantor de música brega. Para isso, utilizam a filha Lindinha
(Marisol Ribeiro), fã do cantor e a única que, em raros momentos, parece sentir
alguma culpa pelo que está fazendo.
É pelo campo da amoralidade que o diretor e roteirista Alain
Fresnot faz transitar seu filme. Sem qualquer hesitação, todos se empenham em
fazer lindinha engravidar do cantor e em extorquir dele algum dinheiro. Não há
culpas e questionamentos, exceto para Lindinha.
A participação ativa do filho mais velho, evangélico
praticante, funciona como ironia e provocação. Nesse terreno da amoralidade, o
filme faz algumas piadas divertidas, brincando catarticamente com questões como
a pirataria no cinema nacional e a invasão evangélica na televisão.
No entanto, o filme se perde a partir do meio da história.
Isso porque envereda por um registro sem muito propósito, oscilando entre um
romantismo de almanaque e tons de realismo fantástico.
Essa mudança faz com que a narrativa perca sua coerência
interna que estava bem estabelecida até então. O que vinha sendo condizente e
harmonizado em termos de proposta – como enredo, atuações, atmosfera e o deboche
bem desenvolvido –, de repente se evapora na mudança de tom, que pouco se
encaixa com o que foi estabelecido até ali.
O efeito lembra certos roteiros hollywoodianos, que se
iniciam com originalidade e até ousadia, mas depois se rendem a uma
mesmerização calculada e programada para manter o espectador na sua zona de
conforto. É como se não pudesse ir além de certo ponto sem voltar logo para (e
pelo) caminho bem conhecido e explorado.
Assim, o roteiro subitamente joga os personagens de Família Vende Tudo em situações nada
convincentes. Percebe-se nesta mudança uma clara busca pelo esquemático roteiro
das comédias românticas americanas, em geral previsíveis e insossas. A
derrapada aqui é ainda pior, porque em alguns momentos envereda para um tipo de
nonsense sem graça e sem justificativa, como um remendo destoante e precário.
Nessa derrapada, salva o filme do desperdício total seu
mérito de declaradamente não se levar a sério, o que sempre ajuda a minimizar os
equívocos. Mas não o bastante para fazer da experiência de assisti-lo algo suficientemente
divertido. O que tem de bom, fica lá pela metade. Se tanto.
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Família Vende Tudo
Alain Fresnot
Brasil, 2011
90 min.
Trailer
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