Quem assistiu ao ótimo Apenas Uma Noite, talvez não saiba que um dos atores, o francês Guillaume Canet, é também diretor. E a julgar pelo excelente trabalho que faz em Até a Eternidade, seu novo filme a chegar por aqui, é de se esperar que venha a ser um grande diretor.
Produção francesa com estreia discreta (apenas uma sala), Até a Eternidade tem no seu elenco um
bom punhado de atores. Dos rostos mais conhecidos por aqui, traz Marion
Cotillard (de A Origem, Meia-Noite em Paris e Piaf – Um Hino ao Amor) e Jean Dujardin,
que recentemente ganhou destaque mundial por sua atuação no badalado filme
mudo, vencedor de cinco Oscars, O Artista.
A história é simples, como são as boas histórias. Um grupo
de amigos, já bastante adultos, costuma passar as férias juntos em uma praia do
litoral francês. Pouco antes da próxima temporada, um deles sofre um grave
acidente de moto e fica hospitalizado. Sem ter como ajudar o amigo alquebrado,
os demais decidem seguir com as férias, afinal estarão a poucas horas de Paris
e poderão voltar rapidamente caso haja alguma novidade na recuperação do amigo.
Dentre as muitas qualidades de Até a Eternidade a que mais se destaca é o modo como o filme trabalha suas camadas, demonstrando uma sensibilidade e uma habilidade fora do comum da direção. Antes de tudo, é uma aula de construção de personagens, na qual ao longo da projeção cada um dos amigos ganha uma personalidade peculiar, nunca rasa ou estereotipada, e surpreendentemente convincente. De forma sutil, a trama consegue criar uma fina camada sob a qual cada um deles não esconde do espectador seus problemas e suas mentiras, embora as escondam de si mesmos e dos outros.
Em contraste com algo de soturno que existe nas mentiras
íntimas de cada um, está a luminosidade e o sabor de alegria contagiante que o
filme alavanca no seu decorrer. Na construção dessa luminosidade, contribui
muito a trilha sonora, que faz um encaixe perfeito, emoldurando cenas em que a
amizade, a diversão e o tempo delicioso compõem um quadro tão belo quanto
frágil.
Embora o miolo do filme pareça um tanto extenso, parte desse
tempo é indispensável para que se dê tempo ao tempo da narrativa, que evoca a
maturação das relações, dos conflitos ocultos em cada um dos personagens. Dessa
forma, o andamento tem o timing
correto, cuja ilusão de demora no desenlace serve como reforço dos impactos que
estão por vir no desfecho. Esse tempo a mais, sem que percebamos, nos leva a
ficar tão apegados a esses personagens, como se fossem nossos amigos também.
Em seu desfecho, o filme guarda um final arrebatador, de
sentimento represado, que desconstrói a todos de uma só vez. Estão ali a dor, o
profundo em nós que desaba de repente, a homenagem e a amizade num nível
comovente. Até a Eternidade é filme
que revela um cinema inteligente sem ser pesado e cansativo, ao mesmo tempo que
é divertido, encantador e comovente sem que para isso tenha que ser piegas ou
banal.
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Les Petits Mouchoirs
Guillaume Canet
França, 2010
154 min.
Trailer
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