Superficialmente, pode-se dizer que Prometeu, na mitologia grega, foi quem roubou o fogo dos deuses e entregou aos mortais. Fogo, que nesta dimensão mitológica, simboliza o conhecimento. Zeus ficou enfurecido com Prometeu. Condenou-o a ficar acorrentado a uma rocha enquanto
uma águia comia seu fígado, que se regenerava infinitamente, perpetuando seu
sofrimento.
Em Prometheus,
novo e aguardado filme de Ridley Scott, é com o nome do herói mitológico que é
batizada a nave de exploração científica que viaja através do espaço. A missão da nave não é menor que a amplitude mitológica do herói: encontrar a resposta para a origem da humanidade, a resposta para a pergunta fundamental "de onde viemos?", cujas pistas apontam para um planeta distante.



Sim, o filme é a retomada do universo de Alien; mas, não, o filme não se conecta
diretamente (pelo menos não ainda) aos eventos da nave Nostromo que tornaram a
tenente Ripley (Sigourney Weaver) um arquétipo de sobrevivência e força
feminina. E se o leitor achar que isso é um spoiler,
não se preocupe, há mais mistérios entre a Terra e o espaço sideral de Ridley
Scott do que julga nossa vã filosofia. Lamentável apenas que o diretor pareça
ter cedido a convenções subdramática de Hollywood e dispersado parte de sua
ótima história com personagens problematizados de forma tão rasa e
desnecessária que chega a ser embaraçoso.
Visualmente, Prometheus
é esplêndido. Visto em 3D, as texturas, a profundidade de campo, as projeções
tridimensionais dos recursos tecnológicos da história ganham uma nitidez impressionante.
Mesmo elementos fora da profundidade do 3D são ótimos, como o desenho interno
da nave, os trajes e veículos e a engenharia alienígena. Para esses detalhes,
Scott contou com o mesmo designer do filme original, o suíço H. R. Giger.

O medo está lá. Nunca tão intenso e terrível como no primeiro Alien. Mas, especificamente numa sequência, é tão visceral quanto e angustiante quanto. Mas é a trama e a ação de alguns personagens o que acaba por enfraquecer substancialmente o impacto do filme. Assim como algumas respostas mal resolvidas da história, que mesmo sendo visivelmente ganchos para uma possível continuação, mereciam melhor clareza.
No desdobramento do roteiro, por exemplo, é possível notar
uma certa preguiça e pressa no encaminhamento da história. Isso leva alguns
personagens a tomarem atitudes não condizente com seus backgrounds, o que afeta imediatamente nossa suspensão de
descrença (condição de credulidade assumida para que possamos entrar num universo ficcional), tão necessária para uma experiência plena no gênero de ficção
científica.


Como filme de gênero é ótimo. Impecável nos efeitos. Porém, tristemente dispersivo
e tolo na dramaturgia.
Ridley Scott construiu um universo estupendo.
Mas, neste caso, parece ter dado pouca importância e atenção ao que realmente
mantém esse universo em pé: contar uma boa história sem perder o foco. Com uma
melhor polida no roteiro e nos personagens faria do filme algo grandioso, monumental, clássico instantâneo. Como
está, fica apenas acima da média. O que, por incrível que pareça, é menos
do que muita gente esperava.
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Prometheus
Ridley Scott
EUA, 2012
124 min.
Trailer
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