Superficialmente, pode-se dizer que Prometeu, na mitologia grega, foi quem roubou o fogo dos deuses e entregou aos mortais. Fogo, que nesta dimensão mitológica, simboliza o conhecimento. Zeus ficou enfurecido com Prometeu. Condenou-o a ficar acorrentado a uma rocha enquanto
uma águia comia seu fígado, que se regenerava infinitamente, perpetuando seu
sofrimento.
Em Prometheus,
novo e aguardado filme de Ridley Scott, é com o nome do herói mitológico que é
batizada a nave de exploração científica que viaja através do espaço. A missão da nave não é menor que a amplitude mitológica do herói: encontrar a resposta para a origem da humanidade, a resposta para a pergunta fundamental "de onde viemos?", cujas pistas apontam para um planeta distante.
O caminho desse planeta é dado por escavações arqueológicas na
Terra, nas quais uma mesma figura e uma mesma constelação aparecem gravadas em diferentes achados de civilizações ancestrais. Separadas por milênios e sem nunca terem tido contato entre si, estas civilizações compartilham uma figura similar, que apontam para um distante sistema solar semelhante ao nosso.
A empreitada de exploração é bancada por uma empresa privada,
a Weyland Corp. Entre os 17 membros da tripulação, está a fria executiva Meredith Vickers (Charlize Theron), além dos pesquisadores responsáveis pelas descobertas arqueológicas - Charlie Holloway (Logan
Marshall-Green) e Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) - e o androide David (Michael
Fassbender).
A grande expectativa em torno de Prometheus está ligada ao fato de Ridley Scott retornar ao gênero
da ficção científica 30 anos após Blade
Runner: O Caçador de Androides, sua última investida no gênero e que nos legou um clássico cultuado por gerações; e também pela possibilidade do diretor voltar ao universo de outro clássico
do gênero que ele também realizou: Alien – O
Oitavo Passageiro (1979).
Sim, o filme é a retomada do universo de Alien; mas, não, o filme não se conecta
diretamente (pelo menos não ainda) aos eventos da nave Nostromo que tornaram a
tenente Ripley (Sigourney Weaver) um arquétipo de sobrevivência e força
feminina. E se o leitor achar que isso é um spoiler,
não se preocupe, há mais mistérios entre a Terra e o espaço sideral de Ridley
Scott do que julga nossa vã filosofia. Lamentável apenas que o diretor pareça
ter cedido a convenções subdramática de Hollywood e dispersado parte de sua
ótima história com personagens problematizados de forma tão rasa e
desnecessária que chega a ser embaraçoso.
Visualmente, Prometheus
é esplêndido. Visto em 3D, as texturas, a profundidade de campo, as projeções
tridimensionais dos recursos tecnológicos da história ganham uma nitidez impressionante.
Mesmo elementos fora da profundidade do 3D são ótimos, como o desenho interno
da nave, os trajes e veículos e a engenharia alienígena. Para esses detalhes,
Scott contou com o mesmo designer do filme original, o suíço H. R. Giger.
O medo está lá. Nunca tão intenso e terrível como no primeiro Alien. Mas, especificamente numa sequência, é tão visceral quanto e angustiante quanto. Mas é a trama e a ação de alguns personagens o que acaba por enfraquecer substancialmente o impacto do filme. Assim como algumas respostas mal resolvidas da história, que mesmo sendo visivelmente ganchos para uma possível continuação, mereciam melhor clareza.
No desdobramento do roteiro, por exemplo, é possível notar
uma certa preguiça e pressa no encaminhamento da história. Isso leva alguns
personagens a tomarem atitudes não condizente com seus backgrounds, o que afeta imediatamente nossa suspensão de
descrença (condição de credulidade assumida para que possamos entrar num universo ficcional), tão necessária para uma experiência plena no gênero de ficção
científica.
Mesmo a personagem da Dra. Elisabeth Shaw, protagonista de alguns dos melhores momentos e cujo papel é fundamental para o andamento do filme, carrega uma ligação com o passado e um ressentimento íntimo que quase nada acrescentam à trama. Pior, são inseridos nela de forma abrupta, artificializando seu efeito e revelando a precariedade do remendo sentimental absolutamente desnecessário.
Admite-se que, como aventava o trocadilho óbvio com o título do filme, que Prometheus gerou uma absurda expectativa, justificada em parte pelo que ele, de fato, prometia. Dos nomes envolvidos, passando pelo universo revisitado e chegando até o trailer impactante e assombroso, o filme empenhou uma ansiedade dificilmente poderia ser inteiramente atendida. Mas o resultado final fica abaixo do que parecia possível. Longe de ser uma retumbante decepção, acaba perigosamente próximo de uma superficialidade que desintegra boa parte da expectativa.
Como filme de gênero é ótimo. Impecável nos efeitos. Porém, tristemente dispersivo
e tolo na dramaturgia.
Ridley Scott construiu um universo estupendo.
Mas, neste caso, parece ter dado pouca importância e atenção ao que realmente
mantém esse universo em pé: contar uma boa história sem perder o foco. Com uma
melhor polida no roteiro e nos personagens faria do filme algo grandioso, monumental, clássico instantâneo. Como
está, fica apenas acima da média. O que, por incrível que pareça, é menos
do que muita gente esperava.
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Prometheus
Ridley Scott
EUA, 2012
124 min.
Trailer
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