La
Guerre est Déclarée
Valérie Donzelli
França, 2011
100 min.
Dirigido pela atriz Valérie Donzelli, que se arrisca na direção pela segunda vez (seu primeiro filme, La Reine des Pommes, de 2009, não foi lançado no Brasil), A Guerra Está Declarada é um antimelodrama. De tom quase ensaístico, faz da sobreposição de camadas e de adereços narrativos uma distopia do drama. Caminha à margem do musical, da opereta pop, do teatral, mas é, em sua semente, um drama tenso.
De Romeo e Julieta nasceu Adão, filho da tenacidade. É o que
se pode dizer da família cujo drama é o estopo do filme. Afrancesando, temos
Roméo (Jérémie Elkaïm) e Juliette (a diretora Valérie Donzelli), jovem casal cujo
filho Adam – com pouco mais de um ano – é diagnosticado com um tumor no cérebro.
O resto é a tenacidade do casal para enfrentar o problema; maratona de exames,
tratamentos, cirurgia. É a guerra de dois pais em busca de cura para seu filho.
Uma história assim praticamente clama pelo melodrama. Mas é
disso que o filme foge. Nessa fuga, faz da narrativa uma pequena salada: inventiva,
original e caricata; mas também desconfortável e, por vezes, disfuncional.
Donzelli acena para o musical quando a trilha parece conduzir os personagens.
Em determinado momento, desmonta o drama de uma situação grave como uma canção
inusitada.
Muitas vezes em A
Guerra está Declarada é como se os personagens vivessem uma letargia
acelerada, ou como se uma fina película onírica se sobrepusesse à realidade.
Esse desvio narrativo demora a ser absorvido pelo espectador desavisado. Uma
vez compreendida a chave da estrutura se monta, fica mais fácil apreciar sua
dinâmica, essa fluência específica.
Mas estas opções não evitam que o filme oscile, se mostrando
irregular. Alterna boa encenação com a monotonia de tempos mortos. Torna-se em
alguns momentos dispersivo, contribuindo para a desatenção do público pela
cansativa irresolução da cena, da sequência e mesmo da trama principal. Em sua
estrutura quase ensaística, frente ao desmantelamento do drama por elementos
destoantes da gravidade do momento, arrisca-se e se perde muitas vezes ao longo
de sua duração.
Não se pode, contudo, deixar de reconhecer o tom atrevido da
obra em arriscar uma descompressão do melodrama através de uma prosaica opereta
pop. Sua trilha sonora chega a ter mais consistência que a própria narrativa e
funciona, de quando em quando, como pontuação e enlace. Há também o carisma da
diretora/atriz, que pesa bastante a favor do filme. Mas não o bastante para
evitar que durante seu desdobramento o desejo de que a hora passe logo nos
ataque de vez em quando.
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