The Adventures of Tintin
Steven Spielberg
EUA/Nova Zelândia, 2011
107 min.
Steven Spielberg não é mais o mesmo. Certo?
Errado. Ele continua fazendo seus filmes da mesma maneira, com o mesmo apuro
técnico. Afinal, ele é bom no que faz. O problema é que, bom ou não, ele
continua fazendo seus filmes da mesma maneira.
Ao se repetir, Spielberg torna banal aquilo que
fez dele um dos grandes nomes do cinema americano: sua capacidade de contar
histórias através da grande aventura. Em As
Aventuras de Tintim, não apenas se nota a banalização desta tal grande
aventura, como se percebe também a ausência de uma grande história. E, no caso específico
do repórter Tintim, o desperdício de um grande personagem.
Tintim surgiu nas histórias em quadrinhos em
1929, criado pelo artista belga Hergé, pseudônimo de George Remis (1907-1983).
Trata-se de um jovem repórter aventureiro que, acompanhado sempre por seu cãozinho
Milú, se envolve em diversas aventuras. As histórias de Tintim se tornaram
muito populares na França e no mundo ao longo das décadas seguintes à sua
criação. No imaginário europeu, principalmente, Tintim e suas aventuras ocupam
lugar de destaque.
A adaptação de Spielberg é uma animação com
atores de verdade. O diretor optou pela técnica do motion capture, tecnologia que permite captar com precisão os
movimentos e as expressões faciais de atores reais e depois transpô-las para um
personagem digital. É a mesma técnica que foi usada para criar o personagem Gollun
de O Senhor dos Anéis e, mais recentemente,
o macaco Caesar, de Planeta dos Macacos:
A Origem. Não por acaso, ambos interpretados por Andy Serkys, ator que vem
se especializando em criar personagens a partir desta técnica e que também está
no filme, no papel do Capitão Haddock.
A trama da fita é baseada no álbum O Segredo do Licorne, publicado
originalmente em 1943. Nela, Tintim se envolve por acaso no mistério de um
navio desaparecido há muitos anos e enfrenta bandidos que tentam encontrá-lo a
qualquer preço. Durante a investigação do mistério, alguns personagens
clássicos do universo criado por Hergé vão surgindo, para alegria dos fãs. O
destaque, naturalmente, fica com o Capitão Haddock, com quem o jovem repórter
divide a aventura.
Não há muito mais o que dizer da trama. Em pouco
tempo Tintim estará completamente absorvido pela ação quase incessante do
filme. São sequências intermináveis, de um cinema hiperativo, com pouco espaço
para respiros. É essa ação destemperada que prejudica o filme e banaliza o
personagem. É onde se tem a repetição, em estilo e cadência, de outros filmes
do diretor, como a série Indiana Jones,
referência natural.
No universo do personagem dos quadrinhos é
notável sua mobilidade intensa. Não raro, para quem já leu suas histórias, a
imagem mais recorrente que se tem é dele correndo, em constante movimento. Mas
Spielberg transformou isso em um suprafôlego que mata qualquer charme e encanto
que o personagem traga. Mesmo a qualidade da ação, embora bem coordenada e
pensada, não acrescenta nada de novo, não vai além de uma sucessão de
artifícios, malabarismos e peripécias comuns do cinema de aventura.
A ausência de um espaço para o desenvolvimento
da história, de um intervalo razoável para o assentamento do personagem e suas
características, além de uma continuidade estendida além do razoável das cenas
de ação, mais desconectam do que ligam. Não é difícil se desinteressar por essa
ação durante seu andamento, querendo que ela termine para que a história siga
adiante.
As Aventuras de Tintim pode agradar ao público
infantil, ávido por movimento, embora talvez até mesmo esse possa se cansar do
exagero. Mas é um filme falho em criar encanto e aproximação, como o diretor já
fez com melhor mão em outras ocasiões. É certo que o cinema mudou muito desde E.T. O Extraterrestre (1982), mas uma
boa história sempre pode ser contada através do cinema, não importa a época.
Basta que para isso exista equilíbrio e bom senso para distinguir o que é
história e o que é apenas distração.
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