Afonso Poyart
Brasil, 2012
108 min.
Munido de um batcinto
de utilidades de referências do cinema moderno, Afonso Poyart não hesita em
aplicar todas elas em sua estreia na direção. O resultado é bom, mas carece de
depuração, de uma mão menos pesada na estética e no empilhamento de
referências, que passam por Guy Ritchie, Tarantino, Michael Mann, Zack Snider e
videogames.
Em 2 Coelhos, cada
personagem é um fio condutor. Entre cruzamentos e embaraços da narrativa, todos
esses personagens se ligarão como parte de um plano de vingança, justiça e
redenção. O coordenador desse grande plano é Edgar (Fernando Alves Pinto), um
jovem classe média que voltou recentemente dos EUA. Ele foi para o exterior depois
de se envolver num grave acidente de trânsito com vítimas fatais. Absolvido
pela justiça por meio dos recursos da corrupção, uma temporada em Miami pareceu
a melhor alternativa naquele momento.
Foi lá que teve tempo e ociosidade para tramar sua grande
jogada, com a qual pretende matar dois coelhos em um único lance. Seu plano
envolve um deputado corrupto, um poderoso traficante e membros também corruptos
do Ministério Público. Sua motivação seria o justiçamento, um ato contra o
sistema. Mas esta justiça é apenas cortina de fumaça para um plano muito maior.
Um plano que só será revelado nos segundos finais do filme.
Poyart monta sua história com uma narrativa não-linear. Feito
um cubo mágico, estabelece relações entre os personagens, e num momento
seguinte conecta outro elemento, reconfigurando a trama. Essa montagem é
eficaz, dá mobilidade à história, reestrutura perspectivas e prende a atenção.
No leque de citações, apresenta cenas de ação, perseguição e tiroteios abusando
das referências. São câmeras-lentas, travellings,
imagens cristalinas de uma ação estetizada, influências claras de um cinema de
ação cheio de estilo e personalidade.
No entanto, esse acúmulo de efeitos de estilo mais parece um
empilhamento do que um arranjo. O excesso despersonaliza. O resultado muitas
vezes cai num poluído aglomerado de efeitos especiais, que ora funcionam bem,
ora extrapolam o necessário. São os efeitos, inclusive, que chamam a atenção no
filme. Nesse aspecto, a produção tem uma qualidade muito boa dentro das
limitações orçamentárias do cinema nacional.
Mas o filme não escapa de falhas. Em uma trama tão
elaborada, com elementos de quebra-cabeça, o roteiro precisa ser forte. Neste
caso, não é. São furos e conexões frágeis que estão ali para amarrar a história,
muitas vezes sem muita consistência. Parte dessas falhas são encobertas pela
edição rápida, pela estrutura fragmentadas, que funcionam como elementos
dispersivos da atenção. Com um pouco mais de simplicidade a consistência da
trama seria outra, muito melhor.
Porém, nada irrita mais que o didatismo de certas tomadas. São
planos que se repetem em meio ao andamento de idas e vindas no tempo, como se fosse
preciso explicar duas ou três vezes ao expectador – duvidando de sua
inteligência ou capacidade de concentração – o que está acontecendo ou como algo
aconteceu. Como o replay em transmissões
esportivas, o filme repete cenas e momentos que estavam perfeitamente claros
desde a primeira vez, ao menos para quem não saiu da sala para recarregar o
saco de pipocas ou não estava teclando no smartphone. É a concessão à distração
ou a dúvida na capacidade do espectador em entender o que está acontecendo.
2 Coelhos é
diversão. Funciona como tal. Assume na sua premissa o desejo punidor da
população contra bandidos, armados de pistolas ou armados de gravatas. Vai além
no desenrolar de seu roteiro e cria uma trama secundária que logo passa à
frente. Faz bem essa inversão, mas peca nos excessos. Faltou equilíbrio e
apuro, faltou não impregnar-se tanto de uma linguagem sustentada pela estética
publicitária/videoclip revestida de cinema cult contemporâneo. Como primeiro
longa, não está mal. Poyart surge como promessa. Com apuro, pode vir a ser
muito melhor.
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