One Day
Lone Scherfig
EUA/Reino Unido, 2011
107 min
Desde que dormiram juntos pela primeira vez, há 18 anos,
Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess) se encontram todo ano no dia 15 de
julho. Eles se conheceram na manhã seguinte à festa de formatura da
universidade, que cursaram juntos sem nunca terem se conhecido antes. Naquela manhã,
estavam sob efeito da ressaca da festa e do ímpeto juvenil que faz do futuro
páginas em branco a serem escritas com grandes realizações. Foram para a cama,
mas naquele distante dia 15 de julho de 1988, literalmente, apenas dormiram.
Começava ali não um romance, mas uma amizade. Uma relação de
afeto, respeito e cumplicidade. Ao longo dos anos nesta relação, os sentimentos
mais intensos – e verdadeiros – estariam sempre submersos pela lealdade e pelo compromisso
de se verem todos os anos no mesmo dia em que se conheceram.
Naquele tempo de juventude impetuosa, Dexter era então apenas
o filho mimado de uma família rica. Bonito, charmoso, acostumado a levar para a
cama as mulheres que desejava. Já Emma era tímida, vinha de família humilde e
sonhava em ser escritora.
A ambos o futuro acenava com sonhos, mas cada um segundo
suas possibilidades. Dexter, inicialmente sem saber ao certo o que fazer e
despreocupado pelo dinheiro que nunca faltaria, acaba se tornando apresentador
de um programa de TV vulgar. Emma, disposta a seguir seu sonho, encara a
realidade. Para sobreviver, passa a trabalhar em subempregos. A vida difícil a afasta
de suas grandes aspirações.
A passagem do tempo em Um
Dia, as mudanças na vida dos personagens, são mostradas ano a ano, através
do único dia que se encontram. Seus altos e baixos são percebidos pelos
fragmentos desse único dia. Passam-se namoros, casamentos, filhos, perdas,
realizações e frustrações. Mudam-se os cabelos, as roupas, a música, o tempo.
Mas permanece a amizade, a alegria que sentem no reencontro, sempre imerso em
uma tensão de desejo que escondem de si mesmos.
Precisam-se nas horas difíceis, quando telefonam e
desabafam. Sabem que se amam de uma forma única, um amor construído pelos anos,
mas germinado desde o primeiro dia. Temem, contudo, esse amor; assustam-se
diante dele e por isso teimam em não desatá-lo.
O filme persegue esse desencontro sentimental até uma certa
exaustão. Com a fragmentação da vida de ambos – no modo como são mostradas e na
própria dissolução dos sonhos pretendidos – a narrativa ganha em poesia, mas
perde na construção dos personagens e do sentimento. Mesmo assim é capaz de
comover, graças a uma boa atuação de Hathaway.
Baseado no romance homônimo, de David Nicholls, que também
assina o roteiro, Um Dia está preso à
obra original. Esta fatalidade, transposta para o cinema, resulta num ponto em
que o drama se amplia na intenção de fazer chorar, de partir nosso coração. A
partir daí a obra perde em originalidade e se afunda numa grande tristeza,
surgida da tragédia.
O que segue até o final da história vem na esteira de uma
esperança melancólica, de um renascimento marcado pelo acontecido, presente
muito mais como atenuação de uma dor profunda. É a lição da esperança e
conforto que arrasta o filme até o final. Essa extensão serve para diluir o
trágico, e com isso jogar para clichês sentimentais o desfecho do filme.
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