Un Cuento Chino
Sebastián Borensztein
Argentina/Espanha, 2011
93 min.
Num primeiro momento, talvez você não associe o nome à
pessoa, mas provavelmente já o conhece. Ricardo Darín. Ele é o grande nome do
cinema argentino. Prova disso são os muitos filmes que protagoniza, sempre com
ótimas atuações. “O Filho da Noiva”, “Nove Rainhas”, “Abutres” e “O Segredo de
Seus Olhos” - este último vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2010 - são
alguns exemplos.
Em “Um Conto Chinês”, simpática comédia dramática que estreia na próxima sexta (02), Darín
interpreta Roberto, um homem solitário e sistemático. Vive em Buenos Aires,
administra uma pequena loja de ferragens deixada pelo pai e gosta de colecionar
coisas, especialmente recortes de jornais com notícias absurdas. Seu único
amigo é Leonel (Ivan Romanelli), jornaleiro que traz os periódicos que recorta.
Apegado á sua rotina, resiste às investidas da cunhada de Leonel, Mari (Muriel
Santa Ana), apaixonada por ele.
A segurança e o conforto de Roberto serão drasticamente
alterados quando Jun (Ignácio Huang) “cai” em sua vida. Jun é um chinês recém-chegado
à cidade, que foi roubado por um taxista e atirado para fora do carro. Ao testemunhar
a violência de que Jun foi vítima, Roberto, um pouco a contragosto, tenta ajudá-lo.
O jovem chinês não fala uma palavra em espanhol e Roberto não tem muita
paciência. Um endereço tatuado no braço de Jun será a pista inicial para uma
solução. Pista que acaba dando em nada e Roberto se vê obrigado a levar o
chinês para sua casa.
“Um Conto Chinês”, tradução literal do título original, é
uma expressão portenha que significa grande mentira, algo como a nossa
expressão “história de pescador”. Jun saiu de seu país após perder a noiva em
um acidente surreal e procura por seu tio, que vive há muito tempo em Buenos
Aires. Mas o velho se mudou e não deixou rastro. A busca pelo tio de Jun faz o
filme patinar um pouco sem sair do lugar. O drama do chinês e a falta de
habilidade de Roberto para lidar com a situação equilibra o filme entre o cômico
e o sóbrio. É divertido sem precisar ser muito engraçado, humaniza os
personagens e dá vida a uma fábula insólita de riso com um pouco de tristeza.
A convivência com Jun, sempre difícil para Roberto, o leva a
enfrentar situações novas, o coloca em conflito, fora de sua zona de conforto. São
mudanças. Como as cenas em que Jun passa a limpar e organizar o quintal
atulhado de Roberto. A mudança clara que sofre aquele espaço depois da limpeza torna-se
um sutil espelho das mudanças que Roberto terá de fazer dentro de si mesmo.
Nos desdobramentos da narrativa, desdobra-se também os
traumas e ressentimentos que Roberto tem com a vida, que julga absurda e sem
sentido. Talvez, por descobrir em Jun uma inesperada comunhão na tragédia,
Roberto repense seu fechamento para o mundo e descubra que ainda há tempo para viver,
para dar uma nova chance à vida. Mesmo que ela seja sempre tão cheia de
absurdos, como num conto chinês.
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