Dois elementos se destacam no modo como Birdman apresenta ao espectador sua narrativa: a metalinguagem e o
artifício. Duas características que se completam ao longo do filme, mas que, de
tão evidentes, acabam por ofuscar sua principal razão de ser, que é nos fazer
mergulhar na crise e na transformação de seu protagonista.

No desenvolvimento dessa crise, a metalinguagem e o
artifício ocuparão papel de destaque. A relação direta entre a história do
personagem central e a do ator que o interpreta é a primeira delas. Entre o
final dos anos 80 e início dos 90, Keaton estrelou dois filmes do Batman.
Depois disso, não se pode dizer que sua carreira tenha caminhado na melhor
direção possível. Esta relação metalinguística entre ator e personagem se
estende até a óbvia semelhança que há na sonoridade das palavras Batman e
Birdman.

A partir desta estrutura contínua, Iñárritu estabelece uma
relação espaço-temporal bem amarrada, em que novamente a metalinguagem chama a
atenção. No seu modo de compor a passagem do tempo, o filme, na sua
sequencialidade, apresenta saltos temporais dentro do mesmo espaço cênico,
criando um efeito que é naturalmente peculiar à narrativa teatral.

Contudo, apesar das qualidades, Birdman sofre do mal da pretensão. No trânsito de seu personagem
por uma travessia íntima, exposta também externamente, com seu obsessivo desejo
de se tornar algo que ele próprio não está convicto do que seja – e suas
inseguranças, incertezas e fragilidades –, o filme resvala em temas diversos,
com provocações que querem parecer elaboradas, mas não vão além da
superficialidade.


Aspectos como morte e renascimento, queda e ascensão,
estarão figurados como parte de algo que será interno e grandioso, algo que, tendo
sua boa dose de natureza humana, não deixa de trazer na essência o orgulho, a vaidade,
o desejo de aceitação, o reconhecimento e a fragilidade inerente a tudo isso. É
o que faz de Birdman um bom filme. Mesmo
que sustentado por efeitos e aspirações maiores do que ele próprio.
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Birdman: Or (The
Unexpected Virtue of Ignorance)
Alejandro González Iñárritu
EUA, 2014
119min.