sexta-feira, fevereiro 15, 2013

As Sessões


Em tom leve, As Sessões relata a perda da virgindade de um homem de quase 40 anos paralisado do pescoço para baixo. O filme é inspirado na história real de Mark O’Brien, interpretado aqui por John Hawkes. Paralisado desde os seis anos após contrair poliomielite, O’Brien depende de um iron lung (pulmão de ferro, numa tradução livre), um respirador artificial em forma de cápsula do qual pode ficar fora apenas poucas horas por dia.

Estas limitações não impediram O’Brien de se graduar pela Universidade de Berkeley (Califórnia). Nem de exercer suas atividades de jornalista e poeta. Mas a questão do sexo sempre foi deixada de lado. Até que em 1988, aos 38 anos, enquanto preparava uma reportagem sobre a sexualidade de deficientes físicos, ele sentiu a necessidade de perder sua virgindade.

É nesse esforço que entra a atuação desprendida de Helen Hunt no papel de Cheryl, uma terapeuta sexual encarregada de oferecer a seus pacientes não apenas a orientação teórica, mas também a prática. Ela é uma sex surrogate (substituta sexual, em tradução livre), prática terapêutica reconhecida desde 1970 nos EUA.

Hunt, que concorre ao Oscar de atriz coadjuvante pelo papel, revela uma surpreendente segurança em francas cenas de nudez. Mas não é apenas seu desprendimento corporal ilumina o filme. Sua atuação equilibrada faz de As Sessões uma história cujo sentimento não ultrapassa os limites do crível e jamais se entrega ao banal.

Durante as sessões dela com Mark desenvolvem-se os típicos sintomas de transferência emocional entre paciente e terapeuta. É com isso que Cheryl, que tem um casamento como outro qualquer, terá de lidar. Mas sem o desprendimento necessário a seu trabalho, pois ela também passa a desenvolver um tipo de transferência emocional.

É na sutileza da construção desse envolvimento que As Sessões tem sua melhor qualidade. Por trás da obvia e natural carência de Mark se esconde a delicada e muito sutil carência de Cheryl, vítima da típica rotina estagnada de um casamento normal. Sem cair numa trama de relações mastigadas, vemos na tela esse processo de reciprocidade emocional, cujo sentimento sincero comove sem apelações.

Pontuado por muito bom humor, em especial na relação que Mark tem com o padre Brendan (William H. Macy), já que ele é muito católico, o filme evita o caminho fácil do drama lacrimoso ao abrir mão de apelativos emocionais baratos. Prefere investir numa relação de afeto sincera e natural, sem grandes gestos.

Tanto esforço por não ser dramático em excesso e por manter as coisas na ordem da vida real faz com que em alguns momentos o filme penda para certa apatia. Não esbarra na frieza, mas seu esforço em ser ameno faz dele uma experiência que por alguns momentos se torna também amena, deixando tudo um pouco apagado.

Porém, mesmo com certa amenidade (resultado de esforços um pouco exagerados em se manter comedidos nos sentimentos) o filme nos toca pela natural comoção de um relacionamento desenvolvido a partir de laços sinceros e que revelam as fragilidades emocionais de qualquer pessoa.

O inusitado de um personagem como Mark, que na vida real relatou sua experiência em um artigo intitulado On Seeing A Sex Surrogate (clique aqui para ler, em inglês), não altera o valor prosaico dos sentimentos que o filme oferece. Isso faz de As Sessões um filme cuja graça está não no incomum de seus protagonistas, mas no que há de comum e verdadeiro em seus sentimentos.
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The Sessions
Ben Lewin
EUA, 2012
95 min.

Trailer

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