Mais do que simplesmente falar da música brega – adjetivo
que pode englobar um amplo leque de subcategorias musicais – o documentário de
Ana Rieper é uma viagem pela natureza sentimental do brasileiro.
Nele, encontramos uma “afetivo-brasilidade” autêntica, sem
floreiros e sem maquiagem. São paragens precárias, bares, prostíbulos, casas
semiacabadas, pedaços de nossa mazela social. Em todos eles, as dores
sentimentais, também conhecidas como “dor e corno”. E qual música melhor
representa este sentimento, quando a vida humilde se mistura à infelicidade no
amor?
Vou Rifar Meu Coração,
título que se refere à letra de uma conhecida canção do gênero, é composto de
retratos e canções. São histórias de abandono, dor, traição e situações
absurdas. Essas histórias são emolduradas pelas canções e pelos depoimentos de
nomes de relevo desse universo artístico. Amado Batista, Lindomar Castilho,
Aguinaldo Timóteo, Wando, Nelson Ned, entre outros, exemplificam e explicam a
natureza sincera e arrebatadora de suas canções.

Acusado de machista pelas previsíveis patrulhas, o filme
traz na verdade uma carga de sinceridade pouco vista no cinema nacional. Sem
julgamentos, apresenta o afetivo que reside na nossa simplicidade atávica. Suas
histórias, cujo sofrimento não dilui o cômico de algumas circunstâncias, são o
reflexo de nossa condição mais verdadeira, na qual o tesão, a paixão e o amor
desmedido não encontram barreiras de classe.

Em uma sociedade marcada pela brutal desigualdade, talvez um
dos poucos pontos de contato entre classes esteja no sentimento doloroso do amor
e da perda. Para dar vazão a todo esse sentimento, criamos um peculiar cancioneiro
que, travestidos de uma sofisticação artificial, podemos até renegar. Porém, não
escapamos de também sentir, afetivamente, a força desse cancioneiro. Podemos
até sair dele, mas ele nunca sai de nós. Vou
Rifar Meu Coração mostra isso muito bem.
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Vou Rifar Meu Coração
Ana Rieper
Brasil, 2011
76 min.
Trailer
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