As conexões entre os personagens de Amor Bandido formam uma corrente não muito sólida, mas com liga
suficiente para nos fazer embarcar com certa cumplicidade amigável. Mesmo o elo
mais fraco, que é a motivação de Ellis (Tye Sheridan) para ajudar o misterioso
Mud (Matthew McConaughey), encontra alguma sustentação no histórico que a
narrativa constrói em paralelo, como sua aura romântica e a crise no casamento
de seus pais.
Assim, ainda que o filme seja frágil naquilo que é a base de sua construção narrativa – as relações entre os personagens – ele se mostra eficaz naquilo que é sua segunda intenção: ser um filme sobre meninos e homens e sobre o transitório de mão dupla entre um e outro; e funciona melhor ainda em sua terceira camada: a elaboração de uma atmosfera de aventura juvenil, com o que há de inocência e amadurecimento no seu desenrolar. Uma atmosfera que se inicia com o aventuresco.
Dois jovens, de seus 14 anos, que vivem em uma região
ribeirinha do rio Mississipi, no Arkansas, saem de barco, ás escondidas, até
uma ilha próxima. Buscam uma espécie de tesouro perdido, que é um barco
“encalhado” no alto de uma árvore. É a imagem deste barco na tela que dá o tom
inicial que permeia o surreal e lança as matizes da aventura improvável.
Logo, no entanto, os jovens descobrem que na ilha vive um
sujeito misterioso, chamado Mud, que está morando no barco do alto da árvore.
Armado de uma pistola, usando botas de cowboy e envolto em superstições, aos
poucos ele envolve os dois jovens em suas histórias. Diz esperar por alguém, um
grande amor que virá encontrá-lo para que fujam juntos.
Entre verdade e fantasia, descobre-se que Mud está sendo
procurado pela polícia, que uma garota que combina com a descrição que ele deu está
pela cidade, que além da polícia outras pessoas estão à sua procura.
O mistério e a ambiguidade dos personagens contribuem não
apenas para a atmosfera do filme, mas para livrá-los de um maniqueísmo fácil.
Embora ao longo da história essas ambiguidades diminuam e o caráter dos personagens
fique melhor definido, sua elaboração causa um efeito de simpatia oblíqua no
espectador, que adere ao filme apesar de suas fragilidades.
Esta adesão, que pode ser profunda ou superficial, é mérito
de uma fotografia equilibrada, de filtros discretos que remetem a um tipo de
memória sem cair no memorialismo. É como ver o presente sob o filtro da
juventude e de imediato guardá-lo como passado, com cores que, mesmo vívidas,
já indicam um tom desbotado. Uma espécie de presente que já nasce com aura de
passado.
No efeito final alcançado, há o mérito também de boas atuações,
como a de Matthew McConaughey, que balança entre uma leve insanidade afável e o
desconcerto de uma vida fora dos eixos. Além do entusiasmo bem autêntico que se
vê na atuação do jovem Tye Sheridan.
Amor Bandido acaba,
portanto, funcionando como um daqueles filmes dos quais gostamos de lembrar,
ainda que não seja especialmente marcante. Tem uma aura que nos envolve,
personagens que nos predem; tem mistério, tem aventura. Suas imperfeições, seus
personagens secundários que ora despistam, ora se tornam óbvias muletas para o
desenlace, não afetam demais a integridade de suas intenções, o que faz dele o
tipo de filme que gostamos de gostar.
--
Mud
Jeff Nichols
EUA, 2012
130 min.
Trailer
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