Filme cheio de deficiências, País do Desejo não lembra nada o ótimo cinema de Paulo Caldas, em cujo currículo de diretor tem os ótimos Deserto Feliz (2007) e Baile Perfumado (1997). Ainda que o refino técnico do diretor se faça notar no filme, o que mais sobressai é a ausência de uma força reconhecível, além de uma entrega a muitas pontas soltas desnecessárias. Num único filme, assuntos demais tendem a dizer coisas de menos. É o pecado da pretensão e do excesso.
Maria Padilha vive uma pianista com uma doença terminal.
Exibe grande ceticismo diante da vida e acha que a música que carregava dentro
de si morreu antes dela. Fábio Assunção é um padre progressista, que não se
opõe irracionalmente ao aborto e incentiva o uso do preservativo. É filho de
pai ateu, tem um irmão médico que exibe grande lascívia e uma mãe em estado de
coma há muito tempo.
Com essa gama de questões orbitando a vida dos personagens,
há o encontro casual entre o padre e a doente descrente. Nasce então, da
inevitável atração entre eles, uma complexidade de subtramas que o desenrolar
do filme simplesmente não consegue dar conta.
Se, por exemplo, as questões que orbitam a vida familiar do
padre servem para dar uma perspectiva de profundidade a este personagem, porque
precisam ser tão enfáticas, se ficarão esquecidas pelo caminho? Assim acontece
com o irmão médico e sua esposa, que pretendem ir à Bulgária porque as mulheres
búlgaras são lindas e fica-se por isso mesmo.
Há ainda o pai que zomba da fé
católica, além de uma insistente promessa de permissividade erótica na figura da
nova enfermeira da mãe em coma; uma jovem oriental que lê mangás (quadrinhos
japoneses) eróticos e veste-se com uma provocativa dose de erotização hentai
(desenhos animados japoneses eróticos). Mas nenhuma dessas sugestões de
subtrama é desenvolvida de forma articulada.
Tão sem articulação quanto o resto, está o caso da menina de
12 anos, violentada pelo tio e grávida de gêmeos. Inspirado num caso real que
ocupou a mídia alguns anos atrás, a história da excomunhão da menina, da mãe e
dos médicos que realizaram o aborto é o pretexto para um dos conflitos do
filme. Mas tudo com tão pouca conexão entre si que o artificialismo acaba sendo
o único fator de destaque da história. Contribui para isso atuações fracas, diálogos
artificiais e a tônica teatral de algumas cenas.
Na costura de tudo, incluindo ainda o casal protagonista e suas
questões de sentimento e descompasso, não se realiza a devida conexão das
partes. Elipses não conduzem a nada, sugestões ficam incompletas e depois de
apresentar todas essas coisas, o filme se apressa para chegar a um desfecho sem
se preocupar com as muitas pontas soltas deixadas pelo caminho.
Enredado em si mesmo e sem nenhuma coesão, Pais do Desejo acena com intenções
demais e narrativas de menos. Quer falar de amor incondicional, intransigência
religiosa, soberba clerical, verve erótica e relações familiares complexas, sem
dar tempo ou entrelace a todas suas pretensões. Brinca de ser livre e nessa
brincadeira perde o fio da meada, o que resulta num filme travado e incompleto.
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País do Desejo
Paulo Caldas
Brasil, 2012
78 min.
Trailer
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