A verdade é que não há crise de criatividade alguma. O que
ocorre é uma onda de conservadorismo de investimento. Tem-se preferido apostar
dinheiro em produções com possibilidade de alavancar público – pelo fato de soarem
“familiar” a esse público –, ao invés de apostar em ideias originais, cujo
sucesso é sempre uma incógnita. Já a questão de como somos atraídos pelo
conforto do que é familiar, em oposição ao novo, fica para outra oportunidade.
Retomando o filme, João
e Maria entra no sub-sub-gênero das adaptações de contos infantis clássicos
com roupagem de ação e aventura. Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve, A Bela e
a Fera, João e o Pé de Feijão fazem parte, entre outros, desse segmento.
O básico, todos conhecemos: João (Jeremy Renner) e Maria (Gemma
Arterton), irmãos, na floresta, encontram uma casa feita de doces. Comem até se
fartarem e acabam aprisionados por uma bruxa má que quer assá-los para uma
farta refeição. A bruxa não enxerga mesmo muito bem, eles vão tapeando a
malvada, até que escapam e matam a megera em seu próprio forno. No filme, os
irmãos tornam-se celebridades e crescem aprimorando-se na arte de caçar e
exterminar bruxas.
Mesmo não se levando a sério (e isso fica claro logo no
início, quando João nos aconselha a nunca entrar em uma casa feita de doces [!]),
chama atenção o modo como o filme não tem vergonha de ser troncho, para não
dizer mal acabado. Não nos quesitos técnicos e de efeitos, que são aceitáveis.
Mas no quesito roteiro e elementos internos da história, dos quais o filme faz
uma grande salada.
Contratados para encontrar crianças desaparecidas de um
vilarejo, os irmãos têm em seu arsenal armas de fogo, embora a ambientação
remeta a uma era medieval. As bruxas, por sua vez, dispõem de “varinhas” e
vassouras voadoras, no melhor estilo Harry Potter, mas sempre com a aparência
malévola e deformada das bruxas más. Na salada, entra também figuras como um troll,
um ser que parece estar em moda nos filmes de fantasia, além de personagens
cuja função na trama é não ter função alguma.
Mais constrangedor, contudo, é o arranjo desarranjado do
roteiro. Seus desdobramentos e enlaces são absolutamente precários, deixando transparecer
um desmazelo quase ofensivo na sua elaboração. Lançado também em 3D, o conjunto
dessa produção não demonstra nenhum esforço em disfarçar seu cunho unicamente
comercial.
Claro que nesse aspecto, o comercial, a produção não difere
de quase tudo que se faz em cinema, incluindo aí boa parte do cinema dito de
arte. Afinal, quase todos querem faturar. A diferença é que em geral há um
mínimo de esforço em entregar ao espectador um produto acabado, mesmo que esse
acabamento seja pobre de conteúdo e qualidade.
Por isso, o que incomoda em João e Maria é a desfaçatez de nem ao menos se preocupar em fazer
seu roteiro ter um mínimo de coerência interna. Os elos que desdobram as
sequências do filme são quase infantis, quando não são simplesmente
inexistentes.
Nas cenas de ação, o filme segue a cartilha do gênero, mas também
sem grande esforço, cumprindo com o básico em lutas, perseguições e objetos
vindos na direção dos óculos 3D. Para quem conseguir desligar totalmente
qualquer sentido crítico ou de atenção à história, os minutos podem até passar
sem sofrimento. Mas para quem não abre mão de prestar um mínimo de atenção à
trama e aos personagens, ficará a clara sensação de que falta muita coisa para
aquilo ser chamado de filme no sentido narrativo da palavra.
--
Hansel and Gretal Witch Hunter
Tommy Wirkola
Alemanha/EUA, 2013
Trailer
0 comentários:
Postar um comentário