Black Butterflies
Paula van der Oest
Alemanha/Holanda/África do Sul, 2011
100 min.
Usada em algumas transições do filme, a imagem das ondas do
mar quebrando com estrondo nas rochas imóveis é recorrente. Há nesta imagem uma
grande força eruptiva. O mar, indomável senhor das paixões volumosas, em
incessante e vão combate contra as rochas duras. Em “Borboletas Negras”, filme que estreia nesta sexta (23), o
embate da alma - e da poesia - de Ingrid Jonker (interpretada por Carice van
Houten) contra a aspereza de seu pai terá a mesma persistência e a mesma
inocuidade das ondas contra as pedras.
O filme foca os últimos – e talvez mais intensos – anos da
vida desta poetisa sul-africana, sua relação conflituosa com o pai e consigo
mesma. Ela, uma escritora tomada pelas paixões, defensora do ideário da
liberdade e igualdade; ele, um influente censor do governo sul-africano, defensor
do regime do “apartheid” vigente no país. Atuando como um registro quase
distanciado e pouco emotivo dos conflitos, traumas e tragédias na vida de
Jonker, a narrativa tem seu centro de gravidade na conturbada relação dela com
o escritor Jack Cope (Liam Cunningham).
Essa relação servirá como notável contraponto, evidenciando a
instabilidade emocional da jovem Ingrid em contraste com o equilíbrio centrado do
escritor mais velho. Embora o filme não explore de forma mais intensa as causas
da instabilidade da escritora, não deixa de lançar pistas que as enraíza na
relação dela com o pai. Interpretado pelo ator Rutger Hauer, que faz uma
caracterização precisa composta da dureza inabalável e ríspida sobre uma tênue
afetividade oculta, será a figura paterna o rochedo com que se debaterá
permanentemente a erupção poética de Jonker.
Apesar de uma história rica em possibilidades, o filme as
explora mal. O ritmo da narrativa e a necessidade de conter uma larga faixa de
vida (e emoções) no tempo de Jonker, acaba por diluir muito de sua
profundidade. Mesmo com atuações excelentes – especialmente Cunninghan, que na
figura de Cope toma a tela sempre que está em cena, exercendo uma força
magnética e poderosa – o resultado é muito abaixo do que se pode entrever na
trama e na história de seus personagens.
Não deixa, contudo, de ser um registro válido da vida de uma
importante escritora e de um importante – e triste – momento histórico, mesmo
que pouco aprofundado pelo filme. Ingrid Jonker, que cometeu suicídio em 1965,
teve o maior reconhecimento de sua obra ao ter seu poema “"The Child (who
was shot dead by soldiers at Nyanga)” lido por Nelson
Mandela na abertura do primeiro parlamento democrático da África do Sul, em
1994. O poema foi escrito após Ingrid presenciar o assassinato de uma criança
negra por soldados do regime.
--
2 comentários:
Boa noite,
Como é que eu poderia comprar este filme?
Obrigada
Também estou interessada em adquirir este filme. Dou aulas de Poesia Séniores e já falei dele aos alunos. Seria ótimo eles terem acesso a este filme
Obrigada
Postar um comentário