Por mais óbvio que seja, nunca é demais repetir que
literatura e cinema são linguagens diferentes. Por esse motivo, a transposição
de um para o outro, as chamadas adaptações para o cinema, como o próprio nome
diz exige... adaptação. É aí que mora o perigo, já que a fidelidade ao original
nem sempre funciona na tela.
Obsessão é a
transposição para o cinema do livro “Paperboy”, de Pete Dexter (trad. Ivar
Panazzolo Junior, ed. Novo Conceito, 336 págs. R$29,90). A direção é de Lee
Daniels, nome que ganhou destaque em 2010 ao dirigir Preciosa – Uma História de Esperança e concorrer a seis Oscars,
incluindo o de melhor filme e melhor direção (levou dois: melhor atriz
coadjuvante para Mo’Nique e melhor roteiro adaptado).
Para esta adaptação, Daniels reuniu um elenco de rostos
conhecidos. Matthew McConaughey interpreta Ward, um jornalista que nos anos 60
retorna à cidade natal na Flórida para investigar um julgamento que resultou em
uma condenação à pena de morte para Hillary Van Wetter, interpretado por John
Cusack.

Ao final de Obsessão,
não é preciso ter qualquer informação prévia sobre a fonte da história para
deduzir que se trata de uma adaptação literária. A transposição da história
para o cinema é tão falha que revela na sua própria estrutura e má
funcionalidade o ruído entre uma linguagem em outra.
Da ambientação aos personagens, passando pelas situações
vividas por todos e pelas diversas questões que o filme pincela (preconceito
racial, direitos civis, moralidade e inocência), tudo está montado e amarrado
como um livro, não como um filme. Não há uma fruição, mas solavancos que
denunciam capítulos condensados, enfileirados e filmados.

Não que os 107 minutos de duração sejam prolixos, eles são
apenas mal aproveitados ao tentarem espremer o que poderia ser cortado e
substituído por um olhar mais próximo dos personagens e suas motivações. Isso
porque quase todos os personagens da trama têm um visível potencial dramático
que o filme simplesmente desperdiça com a superficialidade.

Entre cenas constrangedoramente ruins e algumas boas promessas
nunca concretizadas narrativamente, Obsessão
é um filme que se mostra preguiçoso como adaptação, ineficiente como thriller e
frágil como arco dramático.
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The Paperboy
Lee Daniels
EUA, 2012
107 min.
Trailer
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