sexta-feira, novembro 04, 2011

O Preço do Amanhã



In Time
Andrew Niccol
EUA, 2011
109 min.

Imagine um futuro em que ao se levantar de manhã você tenha um ano de vida pela frente, mas ao cair da noite lhe reste apenas 38 horas de vida? No futuro de O Preço do Amanhã, que estreia nesta sexta (04), esta pode ser uma situação bastante comum na vida das pessoas. Se o adágio tempo é dinheiro ganha cada vez mais força na vida modera, num futuro onde o tempo de vida é a moeda corrente, esse ditado pode ser uma nada engraçada ironia.

Desde que completou 25 anos Will Salas (Justin Timberlake) acorda quase todo dia com menos de 24 horas de vida. Ele vive num tempo em que as pessoas podem viver para sempre, desde que tenham tempo para pagar por isso. Nesse futuro, todas as pessoas nascem geneticamente modificadas para não envelhecerem além dos 25 anos.

O problema é que ao completar 25 anos você tem apenas mais um ano de crédito (vida), registrado em tempo real através de um relógio cutâneo, sempre visível em seu braço. Para viver mais é preciso ter tempo, a moeda corrente desse futuro. E ganhar tempo nos bolsões de pobreza pode ser algo muito difícil.

Nessa realidade, caso seu tempo esgote você simplesmente morre. Por isso as pessoas precisam sempre de mais tempo, seja trabalhando por ele, seja por empréstimos a juros altos, seja roubando. E tudo custa tempo. Um café pode sair por três minutos, a hipoteca de uma casa pode custar um ano. Até lojas com artigos que custam 1,99 minutos estão presentes.

É nessa a vida de tempo curto que vivem Will e sua mãe Rachel (Olivia Wilde) - que numa discrepância genética aparentam a mesma idade. Eles moram e trabalham em um gueto pobre, separado das áreas ricas da cidade pelo que chamam de fuso-horários (para passar de um fuso a outro paga-se horas de vida, quanto mais nobre a região mais horas são necessárias pagar para entrar nela).

Um dia, Will conhece um sujeito com milhares de anos de crédito. Um sujeito que após ter vivido mais de 100 anos não suporta mais continuar. Com uma atitude claramente suicida, esse sujeito acabará doando todos seus anos a Will.

Sem saber o que fazer com tanto tempo e após ver sua mãe morrer por questão de segundos, ele decide ir para o fuso-horário mais nobre, cobrar dos banqueiros imortais a responsabilidade pela miséria em que sempre viveu e que lhe custou tanta dor.

A ideia do argumento de O Preço do Amanhã é original e inteligente. Com sua configuração de tempo como forma de moeda e as desigualdades e discrepâncias que isso provoca, o filme flerta com uma bem pensada crítica ao sistema capitalista e crise financeira do mundo. Em tempos de colapso do sistema financeiro, o filme surge como uma bem articulada metáfora da desigualdade, fragilidade e injustiça desse sistema.

Contudo, o que poderia ser uma aventura de cunho provocador e contestador, cai para a banalidade de uma perseguição recheada de romance e ação ridículo. Ao sequestrar a filha de um banqueiro imortal, Will passa a agir como um Robin Hood do futuro. Mas a trama que se desenrola a partir daí não se sustenta. O filme segue um rumo que reduz a criatividade do argumento a uma sequencia de aventura improvável e tola, descambando para clichês e atuações pífias. Mesmo Timberlake, que já se mostrou um ator de grande talento nas participações que fez em Alpha Dog (2006) e A Rede Social (2010), se mostra fraco e patético nesta produção.

O Preço do Amanhã fica como uma boa curiosidade que lamentavelmente se rende a lugares-comuns, apelos simplistas e trama fraca. Uma promessa muito boa que se desperdiça inteiramente no desenrolar do roteiro.
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