A história é sobre Raimund Gregorius (Jeremy Irons) um professor de filosofia suíço que um dia evita o suicídio de uma jovem, impedindo-a de saltar da ponte. Sem explicação, ela desaparece, mas deixa um casaco com um livro no bolso. Um livro português.
Fascinado pelo livro, pela história de seus personagens, e intrigado pela jovem cuja vida salvou, Gregorius abandona sua vida rotineira e viaja até Lisboa atrás de pistas sobre a misteriosa mulher e sobre o autor do livro.
Em terras portuguesas, vai se deparar com pessoas consumidas por paixões desenfreadas, marcadas pela violência da ditadura de
Salazar e pelas sequelas de um tempo em que se rebelar era a única forma de se
sentir vivo. Pois é justamente esta vivacidade que Gregorius busca, já que não
demora a perceber que o livro o fez despertar da letargia solitária que se
tornou sua vida.
Mas a riqueza poética, histórica e sentimental que poderia
surgir dessa trama, logo na primeira cena começa a se diluir pelo destempero e
pela superficialidade novelesca que acompanhará todo o filme. Ao mostrar seu
protagonista jogando xadrez consigo mesmo, o diretor inicia seu filme com uma
descarada muleta, constrangedoramente óbvia, para simbolizar a solidão de seu
personagem.
Já desde esse início clichê, a trilha sonora se intromete.
Suas notas, repetidas à exaustão durante o restante do filme, soam sempre
elementares na melancolia que querem emoldurar. Daí em diante, o que se arrasta
na tela é uma série de encontros, desencontros e ações que muito raramente
flertam com alguma lógica ou coerência interna. Nem trama nem personagens
parecem se encaixar e a desarmonia disso resulta em artificialismo ou emoções
vazias.
À medida que Gragorius avança em sua investigação sobre o
autor do livro, vai se tornando o fio condutor de uma trama paralela,
desenvolvida na tela por flashbacks a
partir de relatos das pessoas com quem ele vai se encontrando.
Mesmo desconsiderando as grandes coincidências que o roteiro
não se furta a lançar mão, o avançar quase sem obstáculos do protagonista rumo
à finalização de seu nem tão desafiador quebra-cabeças, apenas reforça a
esterilidade que transita pela tela. Uma esterilidade que destoa dos grandes
atores que o filme apresenta.
Charlotte Rampling, Bruno Ganz, August Diehl e Christopher
Lee (além do próprio Irons), são alguns dos nomes de relevo que ajudarão a
contar a história. Nenhum deles, contudo, alcança alguma dimensão além do
superficial. Em alguns casos, são menos que a personificação de caricaturas, o
que faz das relações costuradas entre eles um acumulado insosso de frágil
dramaturgia.
Trem Noturno para
Lisboa é antes de tudo um filme pretensioso. Mas encontra nas suas
limitações simplistas o desmoronamento dessa pretensão. Quer ser poético,
inspirador e apaixonante, tudo ao mesmo tempo, e na ânsia de sê-lo revela-se um
inflado de grande vazio.
Como se seguisse algum manual esquemático, parece crer que a
simples combinação de música insistente, personagens solitários, segredos e
traumas do passado, uma juventude política contra um regime autoritário e o
fogo das paixões de um triângulo amoroso juvenil bastariam, empilhados, para
funcionar. Mas não, não bastam. O resultado é decepcionante.
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Night Train to Lisbon
Bille August
Alemanha/Suíça/Portugal, 2013
111 min.
Trailer
1 comentários:
Larguei esse no meio... Pensei que só eu tinha achado chato.
Cam
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