Em Essential Killing o diretor polonês Jerzy Skolimowski desmonta qualquer estrutura de perspectivas e pontos de vista. Ali não importa a história, importa apenas o homem. Quando fixa sua câmera neste homem, o diretor nos leva à imersão completa de uma insistente luta pela sobrevivência. Mas na forma como se apresenta, esta sobrevivência não surge dourada de heroísmo ou bravura, mas tão somente de instinto e humanidade.

Nesta resistência pela vida, ao diretor parece interessar
apenas o homem e sua permanência. Sua história pregressa é apenas pincelada em
flashes de memória e momentos de alucinação. De resto, ele é apenas o alvo de
uma caçada.
Sob a tenacidade muito mais instintiva que de bravura, Essential Killing nos mostra o ser
humano em uma condição de animal. Na tela, temos a representação mais intensa da
desgastada metáfora do filósofo Thomas Hobbes, do homem como lobo do homem.

Contudo, o mais intenso dessa desventura está na
animalização do ser humano como objeto de caça. Nesta condição, matar para
sobreviver não é uma atitude de resistência ideológica, mas de reflexo e defesa. Neste fugitivo
anônimo, que passa todo o filme dizer uma única palavra – mas que nos gestos e
no rosto de Gallo consegue dizer tudo –, não há um plano de violência, não há
uma intenção de matar. Ele só se torna lobo do homem quando acuado, quando
desumanizado na condição de presa.
É esse detalhe, essa perspectiva, que faz toda diferença na
sua condição. Com a violência e a tensão de sua fuga está posta em cena a
discussão da condição humana e sua variável ante o inóspito e ao instinto da
vida. Não há ideal, não há lado ou motivo, apenas o homem.

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Essential Killing
Jerzy Skolimowski
Polônia/Noruega/Irlanda/Hungria, 2010
83 min.
Trailer
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