
Diante da câmera do diretor, personagens comuns se revezam contando histórias e cantando canções. Estão ali para dizerem – e cantarem – quais músicas marcaram suas vidas e por quê.
Saltam daí histórias dolorosas; de perdas irreparáveis, de remorsos constantes; de vidas marcadas pelo amor, pela paixão e por canções populares. Em alguns casos, é difícil não se emocionar; em outros, o difícil é não rir. Um riso, contudo, único, inquieto, específico. Daquele tipo de riso que guarda na sua soltura um tanto de desconforto e de melancolia.
Essa convivência entre o trágico e o cômico mostra a capacidade que Coutinho tem de explorar a vida em suas singularidades. Seus personagens muitas vezes se contradizem, são confusos em suas narrativas. Todos, no entanto, passam ao diretor e à câmera uma carga rara de sentimento, de verdade, de autenticidade.
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Usando as canções como o elo mais forte entre a memória e o sentimento, o diretor evoca o que todos nós guardamos no íntimo, muitas vezes sem nos darmos conta. Como o entrevistado que chora com uma canção que sua mãe entoava na sua infância. Desconcertado, não entende porque foi ás lágrimas, já que sua mãe ainda está viva e bem.
Menos inventivo que os filmes anteriores de Coutinho, As Canções não deixa de ser uma continuação da busca do diretor por subjetividades individuais que rascunham algumas subjetividades universais. Desse modo, revela interesse pelo incerto e nebuloso no ser humano, transformando a verdade em mito ancorado por incertezas.

Reside aí seu jogo de espelhos, presente de forma muito mais sutil neste filme. Seu reflexo mais nítido pode ser encontrado na última frase do filme, quando uma entrevistada admite que sua relação com o homem que ama não tem chances de dar certo. Conformada, ela tenta encontrar a felicidade em outro lugar. E diz: "Procurei outro caminho. E continuo procurando". Está aí uma boa tradução para o cinema de Eduardo Coutinho.
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As Canções
Eduardo Coutinho
Brasil, 2010
81 min.
Trailer
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